Futebol feminino necessita de cuidados extras com o joelho

A lesão do Ligamento Cruzado Anterior é a maior fonte de preocupação nos departamentos médicos dos times de futebol, já que é a principal causa de indicação cirúrgica no esporte. São lesões que até recentemente eram vistas muito mais em homens, devido à baixa exposição de mulheres em modalidades consideradas de risco, principalmente o futebol.

Com o crescimento do futebol feminino, o número de mulheres acometidas pela lesão tem crescido. Mais do que isso: estudos mostram que, ao considerar atletas da mesma modalidade e no mesmo nível de competição, o risco para a lesão do Ligamento Cruzado Anterior em mulheres, é de duas a oito vezes maior do que entre os homens.

Por que o risco é maior entre as mulheres?
Existem diversas teorias que buscam explicar o maior risco entre as mulheres, e provavelmente diversos fatores podem estar envolvidos. Devemos considerar para isso tanto fatores intrínsecos, próprios do corpo da mulher, como fatores externos, relacionados ao estilo de jogo e, principalmente, à estrutura oferecida ao futebol feminino.

Entre os fatores intrínsecos ao corpo da mulher, devemos considerar aspectos anatômicos, hormonais (incluindo o ciclo menstrual) e, principalmente, o controle neuromuscular. Certos erros de movimento que colocam o joelho em risco são muito mais comuns entre as mulheres, o que torna os exercícios preventivos ainda mais fundamental do que entre os homens.

Ainda que pouco discutidos no meio médico, talvez até por seu caráter mais subjetivo e pela dificuldade em se comprovar qualquer correlação com as lesões do ponto de vista científico, fato é que a estrutura precária oferecida mesmo para a elite do futebol feminino (excetuando-se aqui a seleção nacional e poucos clubes) exerce forte influência no risco de lesões.

Os principais fatores responsáveis pela lesão
Suporte limitado de profissionais especializados: muitos clubes femininos não contam com médicos e fisioterapeutas em suas rotinas diárias, de forma que os programas de prevenção de lesão ficam prejudicados; estudos mostram que estes programas podem evitar até 50% das lesões do Ligamento Cruzado Anterior no futebol.

Condições de campo: campos duros e esburacados envolvem maior risco de torção do joelho e, consequentemente, de lesões do Ligamento Cruzado Anterior. Mesmo nos clubes com boa estrutura para treino, os jogos são feitos em campos com condições muito aquém do ideal.

Elenco limitado: a falta de opções para substituição e a grande diferença técnica entre os elencos titular e reserva faz com que muitas jogadoras sejam colocadas para jogar mesmo sem estarem em plenas condições físicas.

Calendário: muitas equipes não possuem atividades ao longo de todo o ano, com as atletas sendo contratadas apenas no período de competição. Isso torna o trabalho de pré temporada mais limitado e faz com que muitas atletas cheguem na pré temporada em condições físicas muito abaixo do desejável.

O ponto positivo de tudo isso é que grande parte dos fatores responsáveis pelo risco aumentado entre as mulheres podem ser corrigidos por meio de uma preparação física adequada e de um programa de prevenção de lesões efetivo. Cabe às atletas, além de cobrarem por condições mais justas de treino, buscarem fora dos clubes aquilo que não encontram dentro deles.

fonte: Estado de Minas, escrita pelo Dr. João Hollanda
Imagem: Wavebreakmedia, de envatoelements



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