A gota, com forte componente genético, acomete 2% da população mundial, sendo mais comum em homens acima de 40 anos de idade, na proporção de oito homens para uma mulher. Geralmente, são pessoas obesas, sedentárias, com perfil lipídico alterado e com comorbidades.
A gota é desencadeada pelo aumento de ácido úrico no sangue. Caracteriza-se, principalmente, pela deposição de cristais de ácido úrico dentro das articulações, distendendo-as em consequência do aumento acentuado do líquido sinovial.
A primeira manifestação da gota, em 85% dos casos, é uma dor brusca, forte, torturante, que acomete a primeira articulação metatarso-falângica do hálux (dedão do pé). A região, por causa da inflamação, fica muito vermelha, inchada e luzidia. A dor, geralmente, inicia-se abruptamente tarde da noite ou pela madrugada, não cedendo com o uso dos analgésicos ditos caseiros; por esse motivo o atendimento de crises agudas, muitas vezes, ocorre nos prontos-socorros dos hospitais, nas brumas da noite. Qualquer movimentação mais acentuada do dedão do pé piora a dor, bem como o simples contato com o lençol ou o cobertor do paciente ─ alguns pacientes dizem que até o vento a exacerba.
Uma característica peculiar da dor é que não melhora com o uso de calor local ou gelo. Outro local comum de aparecimento da dor, podendo ser também a primeira manifestação da doença, é no joelho, que se apresenta muito doloroso, inchado, com certa vermelhidão e aumento de temperatura local, dada a inflamação. Mesmo pequenos movimentos do joelho exacerbam a dor. o paciente, muitas vezes, locomove-se com extrema dificuldade até com o uso de duas muletas. Às vezes pode ocorrer febre baixa e calafrios.
O tratamento consiste, basicamente, no uso de colchicina (alcaloide natural usado no tratamento de artrite) e agentes inflamatórios não hormonais. O uso de corticosteroides é mais restrito. Outros medicamentos podem ser usados, fora da fase aguda, quando seu uso pode aumentar a dor, como o alopurinol (inibidor da enzima xantinoxidase) e medicamentos urisosúricos (maior eliminação do ácido úrico pela urina), como a benzobromarona. No joelho, quando este se apresentar muito inchado e doloroso, pode ser feita a punção articular, retirando o excesso de líquido sinovial inflamado, devendo-se tomar todos os cuidados de assepsia e antissepsia ─ o uso de pequena quantidade de anestésico intra-articular é extremamente benéfico, pois atua como “água na fervura”.
A dieta é importante. Deve-se evitar alimentos ricos em purinas, como carnes, miúdos em geral, frutos do mar e alguns legumes, como soja, ervilha e feijão. O uso do álcool, principalmente vinhos tintos e cervejas, pode desencadear as crises agudas. A abundante ingestão de água, principalmente a alcalina, é útil.
Concluindo, a gota tem tratamento, propiciando boa qualidade de vida, e não deve ser negligenciada, pois o paciente gotoso será sempre gotoso e a dor da gota não é nada gostosa...
fonte: O Tempo, escrita pelo Dr. Eduardo Amaral Gomes
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