Sobrecarga do Joelho. O Joelho é uma articulação, cujas funções são a de absorver a energia cinética gerada pelo contato dos membros inferiores ao solo e transmitir o movimento aos demais seguimentos do corpo. Isto é feito através de dois mecanismos básicos: a chamada contração muscular excêntrica, onde a fibra muscular contrai e alonga-se resistindo ao movimento e aos graus de flexão durante o movimento.
Em uma corrida, por exemplo, a força de reação ao solo, que chega a ser duas vezes ao peso do indivíduo, é absorvida pela flexão do Joelho entre 50 e 60 graus e pela resistência do quadríceps, ou músculo anterior da coxa. O restante é dissipado pelo quadril e coluna vertebral.
Desde o início dos anos 80, o joelho tornou-se a articulação em destaque na traumatologia do esporte devido à elevada incidência de lesões decorrentes da prática esportiva. Em estudos recentes de biomecânica, concluiu-se que é a articulação do corpo humano que mais trabalha próximo aos seus limites fisiológicos, ou seja, no coeficiente entre destruição tecidual e reconstrução, existe grande chance da segunda prevalecer e, consequentemente, haver lesão. Portanto, não só a prática esportiva, mas também atividades repetitivas da vida diária, como subir e descer escadas, andar, agachar-se podem desencadear dor e inchaço, sem causa maior aparente.
Para que o Joelho cumpra sua função de absorção e transmissão, três fatores são suficientes e necessários: boa flexibilidade de todas as cadeias musculares, desde os rotadores dos quadris, até flexores e extensores dos tornozelos, trofismo muscular e funcionamento harmônico da articulação femoropatelar, ou seja, desde que a rótula deslize de maneira fisiológica em seu “trilho”, a tróclea femoral.
O que causa a sobrecarga do joelho?
Basicamente, a sobrecarga do joelho é causada por aumentos repentinos na intensidade e volume do treino em quem já pratica esporte ou naqueles que começam a praticar de maneira abrupta, sem o preparo físico adequado e sem a orientação de um treinador.
O que sente após a sobrecarga do joelho?
-Inchaço no joelho;
-Estalidos;
-Sensações de falseio;
-Sensação de areia dentro do joelho;
-Dor que pode ou não melhorar após a prática esportiva.
As lesões
Havendo sobrecarga do joelho, diferentes estruturas serão lesadas e a sintomatologia estará intimamente ligada à idade, sexo e modalidade esportiva. Em outras palavras, ao correr 10 km diários, um homem adulto dificilmente terá as mesmas lesões que uma mulher da mesma faixa etária. Assim como um adolescente que pratique futebol 3 vezes por semana também terá resposta inflamatória em locais diferentes, se comparado a um indivíduo idoso.
De uma maneira mais didática, podemos agrupar as lesões do joelho como:
-Tendinites;
-Síndrome de Osgood-Schlatter;
-Sinovite difusa;
-Bursites;
-Condromalácia;
-Síndrome do atrito íliotibial.
Tratando e prevenindo a sobrecarga do joelho
A pedra angular do tratamento da dor no joelho consiste na melhoria do trofismo, equilíbrio e flexibilidade muscular e na correção de fatores que possam alterar o deslizamento entre a rótula e o fêmur. Levando-se em conta o fato de que nenhuma articulação trabalha sozinha, faz-se extremamente necessário a avaliação do tipo de pisada, alterações anatômicas do joelho e problemas oriundos dos quadris. Todos estes fatores podem alterar a cinemática do joelho e predispor a lesões.
Uma vez iniciado o tratamento, o grande desafio é melhorar a força, o equilíbrio e a flexibilidade de uma articulação dolorosa. Caso o paciente não coopere e exagere tanto em atividades da vida diária, quanto no retorno precoce a atividades físicas, pode haver o derrame articular, popularmente conhecido como “água no joelho”, uma reação inflamatória difusa da membrana que reveste a articulação com extravasamento de líquido para a mesma. Isto leva à inibição do reflexo do músculo quadríceps da coxa, com consequente atrofia muscular, formando-se um ciclo vicioso de difícil quebra.
Em linhas gerais, aí vão algumas orientações aos atletas e esportistas que têm ou já tiveram dor no joelho:
-Aos iniciantes: Realizar avaliação física pré-esportiva com um profissional da área médica de sua confiança para que fatores intrínsecos sejam detectados e corrigidos. Como, por exemplo, a pisada pronada, ou supinada, encurtamentos e desequilíbrios musculares. A próxima etapa será praticar o esporte orientado por um instrutor da área, para que seja evitada a técnica inadequada.
-Aos praticantes: Dor é sinal de lesão. É seu organismo lhe dizendo que algo não vai bem. Portanto, se o joelho dói, ou está inchado é hora de parar, procurar um médico ortopedista, reabilitar-se e, posteriormente, retornar ao esporte.
-Aos atletas: O acompanhamento periódico da equipe por um médico do esporte é indispensável. Apesar de muitas vezes, o exame físico estar dentro da normalidade, pode haver algum grau de desequilíbrio muscular, muitas vezes somente detectado através do dinamômetro da avaliação isocinética e que, cedo ou tarde, poderá levar a lesões e comprometer sua performance.
fonte: Dr. Adriano Leonardi
imagem: Pressmaster, de envatoelements