Volta ao esporte após cirurgia de ligamento cruzado anterior de joelho

Estima-se que nos Estados Unidos sejam realizadas, por ano, cem mil cirurgias de reconstrução do ligamento cruzado anterior de joelho. Um estudo publicado na revista cientifica American Journal of Sports Medicine em 2018 aponta que o número de reconstruções aumentou em pacientes com menos de 20 anos e naqueles com 40 anos ou mais nos últimos 12 anos. A incidência da lesão no sexo feminino cresceu significativamente de 10,36 para 18,06 por cem mil, enquanto nos homens aumentou a uma taxa mais lenta, com uma incidência de 22,58 por cem mil pessoas-ano no mesmo período.

Quem já foi submetido a esta cirurgia sabe que retorno ao esporte depende muito da qualidade técnica do procedimento e de uma equipe de reabilitação de fisioterapeutas e profissionais de educação física competente - e, principalmente, da cooperação do paciente. Seguem abaixo os sete passos fundamentais para uma cirurgia bem sucedida e retorno aos esportes com segurança:

1-Escolha bem o cirurgião - A Sociedade Brasileira de ortopedia e traumatologia (SBOT) e a Sociedade Brasileira de cirurgia do joelho (SBCJ) disponibilizam on-line o rol de profissionais especialistas aprovados, e portanto capazes de abordar doenças do joelho. Sempre verifique o currículo do médico selecionado;
2-Pergunte sobre a técnica cirúrgica - Esclareça com seu médico a técnica a ser utilizada na cirurgia proposta e sobre o período pós-operatório. E saiba qual será o impacto no retorno ao esporte;
3-Invista na fisioterapia - Peça indicação de fisioterapeutas ao seu médico. A comunicação entre profissionais e o estabelecimento de protocolos/medidas de reabilitação e prevenção estão estatisticamente ligados a melhores resultados. Verifique com seu médico a possibilidade de realizar fisioterapia pré-operatória. Caso não haja contraindicações, como lesões meniscais bloqueando joelho ou lesões concomitantes a outros ligamentos do joelho, a fisioterapia pré-operatória mantém a musculatura trófica, melhora a dor e mantém o arco de movimento normal do joelho;
4-Literalmente, seja paciente - A reabilitação do ligamento cruzado anterior, por exemplo, leva em média seis meses de recuperação, e o retorno pleno ao esporte deve ser gradual, após melhoria do condicionamento físico e sob a supervisão de um bom treinador. Algumas cirurgias exigem o uso de muletas com descarga total de peso, outras exigem total imobilização. Tanto antes da cirurgia quanto depois, a musculatura do membro afetado, principalmente a musculatura da coxa, sofrerá atrofia, denominada “inibição artrogênica do quadríceps". Em outras palavras, o grupo muscular fica inibido e desequilibrado; e, além de atrofiar, não responde completamente a estímulos voluntários de contração. Mas esse quadro é totalmente revertido com uma boa fisioterapia pós-operatória;
5-Atenção ao reequilíbrio muscular - Para o retorno seguro ao esporte, considero fundamental a realização da avaliação isocinética, idealmente no terceiro e no sexto mês pós-operatório a fim de se analisar força, potência e resistência da musculatura e auxiliar no trabalho de grupos musculares que podem estar fracos e desequilibrados;
6-Fortaleça a musculatura - O trabalho de fortalecimento iniciado pelo fisioterapeuta deve ser passado a um bom profissional da educação física, que entenda bem a lesão e que siga bem o protocolo iniciado pelo fisioterapeuta sob proteção articular, mantendo sempre a comunicação entre profissionais da saúde para melhor direcionamento ao esporte;
7-Realize uma boa transição - Em medicina esportiva, utilizamos o termo transição como o período no qual o paciente passa a ser acompanhado tanto por fisioterapeutas quanto por profissionais da educação física. Testes funcionais são aplicados, como o Function Movimento Screen (FMS), e o treinamento é periodizado até que se consiga voltar de maneira plena ao esporte.

É muito comum que haja ansiedade na volta ao esporte. Cada modalidade esportiva tem seu tempo de retorno, respeitando a biologia e a qualidade da reabilitação empregada. Picos de treino podem causar sobrecarga no joelho, atrasando ainda mais o tão sonhado regresso às academias, quadras, ruas, trilhas e aos gramados.

fonte: Eu Atleta, escrta pelo Dr. Adriano Leonardi
imagem: twenty20photos, de envatoelements



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